Economia verde divide águas | ||
O desenvolvimento de uma economia verde gera discrepâncias entre especialistas por seus benefícios e riscos potenciais. Enquanto alguns consideram que pode agravar as desigualdades sociais e concentrar a riqueza biológica, outros a consideram protetora do meio ambiente e geradora de empregos. “A economia verde não questiona os sistemas de produção atuais, como o agroalimentar, nem fala de mudar padrões de consumo”, criticou Silvia Ribeiro, diretora para a América Latina do não governamental Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração (ETC). Silvia disse ao Terramérica que, por exemplo, “preocupa o uso maciço da biomassa para produzir combustíveis, e das novas tecnologias, como a biologia sintética, que podem gerar níveis de toxidade.” Em seu informe “Quem controlará a economia verde?”, publicado no dia 15 de dezembro, o Grupo ETC argumenta que o funcionamento de uma economia verde beneficiará especialmente as grandes corporações se não houver mudança nos modelos de produção e consumo de bens e serviços e na governança mundial. Acrescenta que as grandes transnacionais de energia, farmacêuticas, agroindustriais e químicas construíram alianças para explorar a biomassa e apropriar-se do controle de recursos naturais, como terra e água. O estudo se centra em áreas como biologia sintética, bioinformática e geração de dados genômicos, biomassa marinha e aquática, sementes e pesticidas, bancos de germoplasma vegetal, fertilizantes e mineração, silvicultura e papel, farmacêutica veterinária e genética animal. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) define a economia verde como “um sistema de atividades econômicas relacionadas com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços que resultam em melhoria do bem-estar humano no longo prazo, ao mesmo tempo em que não expõe as futuras gerações a riscos ambientais e escassez ecológica significativa”. Esta nova variante será o tema preponderante da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá entre os dias 20 e 22 de junho na cidade do Rio de Janeiro, quando se completam 20 anos da primeira Cúpula da Terra, realizada também no Rio em 1992. Os objetivos deste encontro global são um renovado compromisso político em torno do desenvolvimento sustentável, avaliação do progresso para os objetivos internacionalmente acordados em torno do assunto e a abordagem dos novos desafios. Além disso, a cúpula se concentrará na construção de uma economia verde no contexto da erradicação da pobreza e do desenvolvimento sustentável, bem como em um contexto institucional para este propósito. O Pnuma defende a vertente que promove desde 2008, embora reconheça a validade das preocupações existentes. “A economia verde é um imperativo. Uma de suas metas é a igualdade social e o bem-estar humano. Se reconhece o meio ambiente como fonte de riqueza”, afirmou ao Terramérica o norte-americano Steven Stone, chefe de Economia e Comércio do escritório do Pnuma em Genebra. Steven visitou o México na semana passada para a apresentação de um estudo prospectivo nacional sobre economia verde, patrocinado pelo Ministério de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semarnat) e o privado Instituto Tecnológico de Monterrey. “A verdadeira disputa é se os que causam maior dano ao meio ambiente estão realmente contribuindo para o que se deve fazer”, disse ao Terramérica o diretor da Faculdade de Economia da estatal Universidade Nacional Autônoma do México, Roberto Escalante. “Por isso existe o risco de que, no caso de se esverdear a economia, se aprofundem as desigualdades, jogando sobre os que menos têm o maior custo dos impactos ambientais”, advertiu Roberto. O acadêmico realiza uma pesquisa, que prevê finalizar no primeiro trimestre deste ano, sobre o efeito da agricultura e do desmatamento sobre o meio ambiente, a pedido do Semarnat. Diante do processo da Rio+20, organizações da sociedade civil da América Latina impulsionam o relançamento do desenvolvimento sustentável, com ênfase nos aspectos sociais e ecológicos e em uma nova economia para enfrentar a pobreza e a concentração da riqueza. O Estudo Econômico e Social Mundial 2011, do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, recomenda o investimento de US$ 1,9 bilhão anuais em tecnologias verdes durante os próximos 40 anos, para combater os efeitos da mudança climática. O Pnuma considera que o investimento verde pode contribuir para a redução da demanda de energia e água e da pegada de carbono da produção de bens e serviços. “Há muitas alternativas, a mais contundente é a economia do camponês, que representa 70% da produção agropecuária global”, recomendou Silvia, cuja organização tem foco nos impactos ambientais, sociais e econômicos das novas tecnologias. O informe do Grupo ETC sugere a instauração de regimes antimonopólio, para evitar as concentrações de mercado, o papel central da agricultura e a soberania alimentar e a avaliação. Também defende a divulgação internacional das tecnologias “que não são capazes de enfrentar os problemas sistêmicos das crises de pobreza, da fome ou a ambiental”. “Um dos temas fundamentais é o valor da natureza, que não é considerado. Não faz parte do cálculo econômico. É preciso dar valor a esses serviços com limites e regulações”, destacou Steven. Por sua vez, Roberto, cuja pesquisa busca oferecer alternativas para uma produção agrícola livre de carbono, propôs a utilização das novas tecnologias, a participação de instituições universitárias e a concretização de políticas públicas integrais. “Os temas ambientais são, no fundo, temas fiscais. Esta será a grande discussão da Rio+20. Deve prevalecer uma nova visão, colocar no mundo da economia os preços do meio ambiente e estabelecer um esquema que garanta a equidade”, explicou o acadêmico mexicano. | ||
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